sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A Cidade de Luz e a Selva de Pedra

O Professor Plinio Corrêa de Oliveira cita, na sua magistral obra Revolução e Contra Revolução, o seguinte texto da encíclica Immortale Dei, no qual o Papa Leão XIII descreveu a Cristandade Medieval:
“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer”
O quadro de Veneza, pintado pelo incomparável Canaletto, retrata de modo magnífico a realidade medieval referida por Leão XIII.
Um dos aspectos que mais chama a atenção é a profusão de cores e de formas sumamente variadas.
Outro aspecto é a realidade social cheia de vitalidade onde cada indivíduo tem a sua expressão própria, sua personalidade plena, suas potencialidades de alma não encontram obstáculos e desabrocham por inteiro. Daí muita arte, muita vida, muita felicidade de situação.
Há uma espontaneidade conduzida pela bênção e pela graça de Deus que nos leva a perceber que, numa aparente desordem, cada coisa está onde deveria estar.

Cada detalhe está impregnado dessa vitalidade, dessa luz, que nasce da graça e da bênção postas por Deus nos povos que vivem segundo a Sua santa Lei.
Por que Veneza atrai tantos turistas?
Porque, comenta Plinio Corrêa de Oliveira, Veneza foi uma cidade que cumpriu, em muito bom grau, o plano de Deus para todos os homens: Edificar uma civilização que preparasse para o céu.
Assim sendo, os turistas modernos sentem que certas cordas da alma vibram quando eles se encontram com uma realidade – embora tristemente agonizante convém que se diga – que reflete uma ordem, uma harmonia, uma beleza consonantes com uma matriz que mora no fundo do seu ser, algemada pelo mundo moderno, clamando pelo direito de desabrochar e caminhar para Deus.
Alguém me dirá: Você está sendo parcial. Todo mundo sabe que havia coisas erradas em Veneza.
Sim havia, porque não estamos no Céu, estamos em estado de prova. Mas, o mal era considerado mal e era combatido, e o bem era considerado bem e era favorecido. O que distinguia o bem do mal era Deus e Seus Mandamentos.
Que bela frase de Dr. Plinio, extraída do mesmo livro citado acima:
“Quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as maravilhas da História que assim se operam: é a conversão do Império Romano, é a formação da Idade Média, é a reconquista da Espanha a partir de Covadonga, são todos esses acontecimentos que se dão como fruto das grandes ressurreições de alma de que os povos são também suscetíveis. Ressurreições invencíveis, porque não há o que derrote um povo virtuoso e que verdadeiramente ame a Deus.”



Vejamos agora uma “Selva de Pedra”, nome dado às nossas megalópoles de concreto.
Predominam os blocos de concreto cinza. Não há arte, quase não há cores, não sugere poesia. Tem-se a impressão de uma desordem sem inspiração. Se nos aprofundarmos veremos que está impregnada de ateísmo, de imoralidade, de materialismo. Faz lembrar uma gigantesca prisão que vai inibindo cada vez mais as potencialidades do espírito. Por isso vai se definindo cada vez mais socialista e comunista.
Um pintor genial como Canaletto não encontraria nela o que merecesse ser pintado.
Que tristeza essa pseudo civilização, esse exílio! Consola-nos a promessa feita por Nossa Senhora em Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Contudo, uma grande beleza está presente aqui e não estava na belíssima Veneza.
É, dentro de tanta oposição e adversidade, a esperança que habita e inflama os corações dos que têm Fé e lutam pela vitória de Nossa Senhora e da Civilização Cristã. Serão saciados!