terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Uma carta do Menino Jesus para você

Uma freira, que está no foco da perseguição anticatólica na Síria, compôs a carta abaixo, realmente inspirada. Por recomendação de Dom Luiz, Chefe da Casa Imperial, faço chegar o texto aos leitores do Resistir na Fé ainda dentro da oitava do Natal.


Caros amigos, 

Como todos sabem, o dia de meu aniversário se aproxima. Todos os anos há uma grande festa em minha honra e eu creio que ainda neste ano a celebração vai ocorrer. 
Durante este período, todo mundo vai às compras, adquire presentes, há abundante propaganda no rádio e nas lojas, e tudo isto aumenta à medida que o meu aniversário se aproxima.
É muito bom saber que pelo menos uma vez por ano algumas pessoas pensam em mim. No entanto, noto que, se a princípio as pessoas pareciam entender e pareciam gratas por tudo o que fiz por elas, quanto mais o tempo passa menos elas aparentam se lembrar da razão desta celebração. As famílias e os amigos se reúnem para se divertir, mas eles nem sempre sabem o significado da festa.
Lembro-me que no ano passado houve um grande banquete em minha honra. A mesa da sala de jantar estava cheia de comidas deliciosas: bolos, frutas e chocolates. A decoração era magnífica e havia muitos presentes bonitos embrulhados de maneiras muito especiais.
Mas você sabe o quê? Eu não fui convidado... Em teoria eu era o convidado de honra, mas ninguém se lembrou de mim e não me enviaram um convite. A festa era em minha honra, mas quando o grande dia chegou me deixaram de fora, e eles fecharam a porta na minha cara... e ainda assim eu queria estar com eles e compartilhar sua mesa. Na verdade, aquilo não me surpreendeu, pois nos últimos anos todas as portas se fecham diante de mim. 
Como eu não fora convidado, decidi participar da festa sem fazer barulho, sem ser notado. Eu me coloquei em um canto, e observava. Todo mundo bebia, alguns estavam bêbados, eles faziam troça e riam de tudo. Eles tinham um bom momento.
Para tudo coroar, aquele homem gordo de barba branca chegou, vestindo uma longa roupa vermelha, e rindo sem parar: 'ho, ho, ho!’ Ele se sentou no sofá e todas as crianças correram em volta dele, gritando "Papai Noel! Papai Noel!", como se a festa fosse em sua homenagem!
À meia-noite, todo mundo começou a se abraçar; abri os braços e esperei que alguém viesse me apertar em seus braços e... Você sabe o que?... Ninguém veio até mim! 
De repente eles começaram a trocar presentes. Eles os abriram um por um numa grande excitação. Quando tudo tinha sido desempacotado, olhei para ver se talvez um presente havia sido deixado para mim. O que você sentiria se no dia de seu aniversário todos trocassem presentes e você não recebesse nenhum? 
     Eu finalmente compreendi que eu não era desejado naquela festa, e saí silenciosamente...
A cada ano fica pior. As pessoas só se lembram do que comem e bebem, dos presentes que receberam, e ninguém pensa em mim. Eu quereria para o Natal deste ano que vocês me deixassem entrar em suas vidas. Desejaria que vocês se lembrassem de que há mais de 2000 anos eu vim ao mundo para dar a minha vida por vocês e, finalmente, para salvá-los. Hoje eu só quero que vocês acreditem nisto de todo coração.
Como muitos não me convidaram para a sua festa no ano passado, desta vez eu vou organizar minha própria festa e espero que muitos de vocês se juntem a mim.
À maneira de resposta positiva ao meu convite, envie esta mensagem para o maior número de pessoas que vocês conhecem. Eu serei eternamente grato a vocês.
Eu amo muito vocês!

                Jesus

Embora tenha chegado com certo atraso, ainda há tempo para oferecermos alguma reparação pelas infinitas ingratidões e pecados cometidos nesses dias tão cheios de significado para os verdadeiros católicos.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Vivamos um Natal sem hipocrisia

                Mais uma vez, nos aproximamos do Natal. Outrora se dizia Santo Natal, mas chamar o Natal de Santo hoje é propriamente um disparate.
                Porque o Natal hoje é sinônimo de boas vendas, luzes frias e postas sem sentido enchem as ruas e shoppings. Balconistas esboçam sorrisos interesseiros para conquistar clientes. O grande astro é o Papai Noel, marketeiro ateu. Os brinquedos já não são inocentes, nem maravilhosos, mas reproduzem frequentemente seres horríveis da TV ou do cinema. As pessoas viajam e se largam, se desabotoam, nos ambientes ondem vivem as festas. Come-se demais, bebe-se demais, veste-se de menos, relaxam-se os costumes e as maneiras. Nada de sobrenatural, nada de elevação, nada de piedade autêntica. Excessos se sucedem nos dias de comemoração, antecedendo a frustração da volta para casa. Buscou-se em tudo o maior prazer, mas não foi encontrado. Uma sensação de fracasso invade as almas. Após a chegada em casa, a marcação de consulta ao psicólogo, ao psiquiatra, para sair da depressão.
                Sobretudo Aquele que é a razão do Natal ficou completamente esquecido. Para esses, Deus, o Salvador, o Redentor em nada lhes é sensível e está completamente ausente. São os hipócritas. Comemoram o aniversário sem dar a menor importância ao aniversariante.

                Porém, felizmente há outros que sabem como viver adequadamente a grande festa.
                Recolhidos, cheios de gratidão pela vinda do Messias, contemplam o Menino Jesus, Verbo de Deus encarnado, que dorme numa pobre manjedoura, guardado por Nossa Senhora e São José. Lembram-se esses de agradecer o bem infinito da redenção. Lembram-se que essa redenção foi a maior prova de amor que Deus pode demonstrar por suas criaturas. Sentem-se por isso felizes por pertencerem a esse Deus infinitamente bom, e procuram expressar-Lhe sua profunda união.
                Rezam e meditam, sim, mas também comem e bebem com equilíbrio, comportam-se como seres nos quais a alma predomina e rege todos os seus atos. Uma temperança mantem nos devidos limites tudo o quanto fazem. Por isso, no final, não se sentem frustrados, mas elevados; não se sentem desarranjados, mas ordenados; não se sentem tristes, mas felizes. Viveram o Santo Natal e, pelo favor de Nossa Senhora, receberam graças que os aproximaram ainda mais do seu Criador que veio ao mundo para redimi-los.

                Esse é um Natal sem hipocrisia, cheio de autêntico amor, de união e verdadeira paz. Assim devemos viver o Santo Natal.
                Desejamos a nossos leitores um Santo Natal e um Ano Novo repleto de graças que se estendam por todo 2014.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Para degustação dos mais argutos


Uma adepta entusiasta de Plinio Corrêa de Oliveira me encaminhou o artigo abaixo, o qual eu reproduzo aqui para a degustação dos espíritos mais argutos.





A Beatificação de Pio X, o campeão do antimodernismo
                                                                                                                                                     Plinio Corrêa de Oliveira




Notícias provenientes de Roma informam que o processo de beatificação de Pio X está muito adiantado, tendo entrado em sua última fase. É assim que falta apenas o último exame dos inúmeros documentos que formam o processo. Logo após será promulgado o decreto de beatificação, em data que se crê bastante próxima, isto é, em princípios de 1942.

A elevação de Pio X à honra dos altares terá um significado todo especial, na época difícil que o mundo atravessa. Muito se tem procurado deformar a fisionomia do grande Pontífice, para mostrar apenas o aspecto manso, humilde e simples, desprezando a sua energia sem limites, a sua decisão inflexível, o seu zelo heróico e inquebrantável pela pureza da doutrina. Chegam mesmo a fazer de Pio X a figura de um bonachão simplório, ao agrado dos liberais, dos desfibrados e dos sentimentais.

Contudo, no santo Pontífice é preciso não separar, nem preterir uma a favor de outra, as duas qualidades, que são, aliás, as qualidades de todo e qualquer bom católico: a suavidade e a fortaleza. Suavidade, que não deve ser a pieguice mórbida das sensibilidades descontroladas, mas que é antes de mais nada o domínio absoluto da razão sobre as paixões, sobre as idiossincrasias, sobre os afetos, sobre todos os movimentos da parte inferior da natureza  humana. Fortaleza, que não deve ser a brutalidade estúpida dos bandidos e dos tiranos, mas a determinação inabalável de cumprir o dever, custe o que custar. E assim Fortaleza e Suavidade não se excluem nem se opõem, mas se completam e se harmonizam.

Pio X realizou maravilhosamente, em sua vida, a síntese destes dois aspectos do Catolicismo. Acolhedor e afável para os bons e os verdadeiramente arrependidos, foi o martelo inexorável das heresias, não regateando os golpes com que feriu os propagandistas do erro. E é este mesmo Papa doce e amável quem acumula, em suas encíclicas, as expressões duras e contundentes contra os semeadores da mentira e da discórdia. E ainda aí havia suavidade, a inenarrável suavidade do pastor que, por amor de suas ovelhas, acomete corajosa e intrepidamente, sem cuidar de si, a matilha dos lobos esfaimados.

As taras acumuladas durante o século XIX vieram abrolhar neste tumor maligno do modernismo, feito de impressionismos vagos, de exaltações suspeitas, de sentimentalismos  adocicados, de um filantropismo naturalista e de um irracionalismo sensualista. Mas, sobretudo, o modernismo, por sua própria natureza, se apresentava com esta nota inédita: era a primeira heresia que não abria luta declarada contra a doutrina oficial, mas se confundia habilmente em manejos tortuosos, procurando aninhar-se jeitosamente no seio da Igreja.

Pois bem. Foi Pio X quem, de espada em punho, saiu a desentocar a serpente, para tocá-la donde ela não queria sair.
Entretanto, embora ferido de morte, o modernismo ainda continua a existir por aí, procurando sempre empestar os ambientes católicos. Certas mofas, que de vez em quando se ouvem, contra o raciocínio discursivo e contra o valor da apologética, não tem outra origem. Certo gongorismo intelectual, que consiste em jogar jeitosamente com o valor das idéias, burlando-lhes o sentido tradicional, tudo consistindo em divagações imprecisas, cheias de vaidade e pobres de verdade, com aparências de profundidade, e não passando de escamoteação, também vem daí. Esta incoerência em que se diluem os conceitos mais elementares, que se pode notar tantas vezes, ainda é modernismo. E, principalmente, tanto
laxismo, que corre mundo sob capa de caridade, não passa de autentico modernismo.
Portanto, nada mais a tempo que a próxima beatificação de Pio X, a fim de que as virtudes do grande Papa sejam um estímulo e exemplo para os que combatem os erros da era presente. 
Legionário, n° 488, 18 de janeiro de 1942, pág. 1


Quanta conclusão a tirar desse artigo de 1942, mas tão atual...












segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Um Papa é sempre infalível? Pode ele errar?


Um Papa é sempre infalível? Pode ele errar?
Várias pessoas perplexas e preocupadas me tem perguntado. Nada mais natural. Encontrei uma explicação magistral em um número da Revista Catolicismo de Novembro de 1976, que é muito segura e não deixa margem a dúvidas.
Como a artigo é extenso, publico apenas um resumo, colocando-me à disposição para envia-lo completo a quem o desejar. Os sublinhados e destaques são meus.

A Infalibilidade da Igreja
I - Introdução
Paulo VI lamentou as ambiguidades que surgiram na Igreja, após o Concílio, perturbando a consciência de muitos fiéis e extenuando o vigor da Fé. Podemos ver nessa constatação um efeito da “fumaça de Satanás”, que poluiu os ambientes eclesiásticos, e um dos meios de autodemolição da Igreja, ou seja, de uma destruição por elementos que nEla se encontram instalados.
Para esclarecimentos de nossos leitores sobre a matéria, resumimos aqui um substancioso artigo da revista belga Mysterium Fidei (nº 33 de julho de 1976).
II - A Infalibilidade
Na locução de 18 de setembro de 1968, por ocasião da audiência geral de Castelgandolfo, Paulo VI insistia sobre o cuidado em procurar a informação exata e completa. Tal recomendação aplica-se também às definições da Santa Igreja. É indispensável conhecer todo o alcance do ensinamento do Magistério, dentro, porém, sempre do âmbito delimitado pelo mesmo Magistério.
Semelhante cuidado se impõe também quando se trata da infalibilidade pontifícia. — É exato que o Papa é sempre infalível?
III - O texto da definição
Com efeito, o texto da definição deste dogma de nossa Fé não pede que o objeto do ensinamento seja assunto de Fé ou Costumes. Impõe ainda outras condições. Ei-lo na sua clareza e precisão: “O Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho de sua função de Pastor e Doutor de todos os Cristãos, define, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, que uma doutrina concernente à Fé ou aos Costumes deve ser aceita por toda a Igreja, goza, graças à assistência divina, a ele prometida na pessoa de São Pedro, daquela infalibilidade da qual quis o Divino Redentor fosse dotada a sua Igreja ao definir uma doutrina sobre a Fé ou os Costumes; assim, tais definições são por si mesmas irreformáveis, e não pelo consentimento da Igreja(1) (destaque nosso).
IV - Magistério extraordinário
Semelhantes atos pontifícios constituem a expressão do seu “Magistério extraordinário” (ou solene), isto é de sua Autoridade docente de Príncipe dos Apóstolos, excepcionalmente afirmada sobre toda a Igreja, dentro das condições de sua estrita competência, com termos de uma precisão canônica, impondo-se à consciência católica e excluindo toda possibilidade de ulterior mudança.
V - O modo de definir
A garantia de autenticidade destes atos solenes não reside no luxo do aparato exterior. Para uma definição, o Papa poderia utilizar igualmente uma Encíclica, uma Radio-mensagem, como um Breve ou uma Constituição Apostólica. Ele permanece livre de escolher o modo de expressão que julgar mais oportuno. (2)
Porquanto, basta — mas é absolutamente necessário que o Papa proceda conforme as condições requeridas, dogmaticamente definidas, para que um ato ex cathedra tenha sua existência objetivamente comprovada como infalível, sem lugar a dúvidas.
“Como o uso constante da Igreja e dos Soberanos Pontífices consagra certas fórmulas, para assinalar sem possibilidade de dúvida, a toda a Cristandade, o julgamento supremo definitivo [...], segue-se que, se o Papa negligência tais fórmulas e não exprime claramente que, apesar desta omissão, entende ele e deseja definir como juiz supremo da Fé, deve-se pensar que não exprimiu seu julgamento como infalível(3) (destaque nosso).
VI - “De si e não pelo consentimento da Igreja”
É preciso evitar o pensamento de que o carisma da infalibilidade é totalmente independente da Igreja. Pessoal embora, e possuindo um valor independente do consentimento da Igreja, não está ele desvinculado da Igreja, uma vez que o Romano Pontífice o possui precisamente enquanto chefe da Igreja e na sua função de doutor e pastor dessa Igreja. Recusando-se a ver no consentimento da Igreja, a fonte da infalibilidade pontifícia, o Concílio do Vaticano, absolutamente não quis dizer que o Papa — aliás, órgão da Tradição — deveria no exercício do seu Magistério infalível prescindir do contato estreito com o sensus Ecclesiae. (4)
VII - Magistério Ordinário
Além do Magistério extraordinário, solene, exerce o Papa um Magistério ordinário.
Sem dúvida, distintos, seria erro grave opor Magistério solene e ordinário, segundo as categorias muito simplistas de infalível e falível, (5) uma vez que, seja qual for a via pela qual nos chega a Doutrina, esta é sempre infalivelmente verdadeira, quando certamente ensinada pela Igreja inteira, ou somente pelo seu Chefe. Contudo, enquanto no Magistério solene a garantia pode nos ser dada pelo julgamento de um só, tomado à parte, no ensinamento ordinário ela só pode provir de uma continuidade e de um conjunto. Fora dos julgamentos solenes, a autoridade das diversas expressões do ensinamento pontifício comporta degraus e matizes. Todos, não obstante, se integram autenticamente nessa Tradição contínua e sempre viva, cujo conteúdo não poderia estar sujeito a erro sem que periclitassem as promessas de Jesus Cristo, e a própria economia da instituição da Igreja. (6)
VIII - O Magistério e a Tradição
Assim, o critério para se avaliar um ensinamento isolado, é relacioná-lo com o ensinamento, continuado através dos séculos, verificado em toda a Igreja.
Continuidade. — Ensina Pio XII: “Desde os tempos mais remotos, encontram-se diversos testemunhos, índices ou vestígios que manifestam a Fé comum da Igreja no decurso dos séculos”. (7) A mesma conclusão emerge do costume habitual dos Papas, pois, percorrendo as Atas dos Pontífices Romanos, pode-se perceber o cuidado que tiveram eles em citar, a propósito de cada problema, as decisões de seus predecessores e de se situar, através de suas múltiplas referências, no conjunto da Tradição.
XIX - Alguns exemplos históricos
Bem examinada a definição da infalibilidade, proclamada no I Concílio do Vaticano, vê-se que o exercício do magistério pessoal infalível, considerando-se seu campo e suas condições, não atinge todos os atos pontifícios, como também se evidencia que “não será preciso crer que a infalibilidade abarca todos os domínios da atividade pontifícia. É isso de tal modo verdadeiro, que os teólogos estudam o caso de um Papa escandaloso, de um Papa herético, de um Papa cismático... Resulta, aliás, que os casos nos quais a infalibilidade pessoal do Papa está engajada são marcadamente raros. Quanto ao Concilio Vaticano II, Paulo VI, formalmente, excluiu-o do magistério infalível. Eis suas palavras: “Dado seu caráter pastoral, o concilio evitou pronunciar, de maneira extraordinária, dogmas dotados de nota da infalibilidade”. (10)
Alguns exemplos históricos ilustram a doutrina exposta. (omitidos por brevidade)
XX - Conclusão
Como se viu, é na medida de sua conformidade com a Tradição católica que transmite o Depósito da Fé, que os atos do Magistério da Igreja podem ter um valor de inerrância, quer se trate do Magistério supremo, solene, quer do Magistério ordinário. Os casos aduzidos mostram bem que, embora Soberano Pontífice, o Papa, não é impecável, nem pode erigir-se em proprietário supremo da Religião. Ele é um administrador, (16) que há de se ater a determinadas normas no exercício de seu mandato. São Paulo as aponta:
— “Guardar o Depósito da Fé” (I Tim. 6,20);
— “Transmitir, antes de tudo, o que recebeu” (1 Cor. 15,3);
— “Edificar e não "destruir” (2 Cor. 10,8);
— “Guardar as Tradições” (2 Tes. 2,14);
— “Manter-se afastado de todo irmão que vive na desordem sem seguir a tradição recebida” (2 Tes. 3,6);
— “Mostrar-se fiel” (1 Cor. 4,1-2).
A razão é que os Bispos e o Papa, sucessores dos Apóstolos e do Príncipe dos Apóstolos, São Pedro, têm uma missão determinada pela constituição divina da Igreja. Pois esta deve conduzir os homens a Deus, a fim de que eles se entreguem ao Criador sem reservas... A Igreja não pode jamais perder de vista esta finalidade estritamente religiosa, sobrenatural (17). E a maneira como a Igreja realiza esta sua finalidade sobrenatural é indicada pela mesma Revelação. Daí a obrigação de seguir a Tradição, segundo a frase de São Paulo aos Gálatas, aplicada aos Bispos por Paulo VI: Se eu ou um anjo do Céu vos evangelizar diversamente do que vos foi evangelizado, que seja anátema (1,8)”. (18)
____________________
NOTAS
1.    Vaticano 1, Const. Pastor Aeternus.
2.    São Pio X, Const. Apost. Promulgandi, de 29 de setembro de 1908.
3.    Gregório XVI, Il trionfo della Santa Sede, Veneza, 1838,
4.    R. Auberi, Va. I, col. Hist. des Conciles, Docum. Nº 12, Paris, 1964, pp. 292-298.
5.    D. Nau, OSB, Le Magistère pontifical ordinaire, lieu teologique, Solesmes, 1956, Club du Livre Civique, 1962,
6.    Ibidem.
7.    Const. Apost. Magnificentissimus, A.A.S. 42. 1950, p. 757.
8.    Vaticano 1, Const. Dogm. Pastor Aeternus, 18 de jutho de 1870,
9.    São Vicente de Lérins, “Commonitorium, 2, 5”, in Kirch, “Enchiridion Fontium Historiae Ecclesiasticae Antique”, 742,
10.  Marquês de la Franquerie, L’infalibilité pon tificale, le Syllabus, la condamnation du Moddernisme et la crise actuelle de l'Église, Chiré-en-Montreuil, 1973, p. 35.
11. Denziguer-Schmetzer, Enchiridion Symbolorum et Definitionum, n° 980.
12. Ludovico Pastor, Istoria dei Papi, Desclé de Brouwer, vol. IV, p. 418.
13. Suma Teológica, 2.2, q. 104, a.5.
14.  Mangenot Vaccant e Michel Amant,   Dictionaire de Theologie Catholique, vol. 14, coluna 1918 e ss.
15.  Christian Order, vol. 16, n° 12, dezembro de 1975. art. "Roberi Grosseteste: Pillar of the Papacy". colunas 722-723.
16. Th. 1, 7-9.
17. Pio XII, Alocução de 6 de março de 1956.

18. Exortação por ocasião do primeira lustro após o encerramento do Concílio. 

sábado, 21 de setembro de 2013

O Papa Francisco e os conservadores desconcertados




Desconcertado, eu também, com notícias recentemente publicadas na mídia e preocupado com seu efeito desestimulante sobre os católicos conservadores, busquei uma poltrona para espairecer. Peguei uma coleção de escritos de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira e me deparei com o profético artigo escrito na Folha de S. Paulo em 1° de novembro de 1970. Incrível como me esclareceu.  
Tenho presente que toda metáfora claudica, mas isso não impede o recurso didático a ela.
Bastou atualizar os fatos, que o discernimento se mostrou inteiramente atual. Para que possam avaliar bem, as palavras dele eu as colocarei em itálico, as adaptações são minhas.
“Entre lobos e ovelhas: novo estilo de relações”
“Quanto mais caminham os fatos, mais desconcertam um setor — que creio [nada desprezível] — da opinião católica.
“Tal desconcerto, é preciso que se diga, não decorre apenas da ação ou das omissões de tantas autoridades pequenas, médias e altas da sagrada hierarquia. Ele sobe ainda mais.
“Oxalá alguém me convencesse de que são falsos os fatos meridianamente claros a meu ver, em que me baseio para fazer esta afirmação.”
Refiro-me à carta enviada pelo Papa Francisco aos muçulmanos parabenizando-os pelo término do Ramadan, que desconcertou não só a mim, mas católicos do mundo inteiro.
No dia 2 de agosto, o papa enviou uma carta, escrita de próprio punho e amplamente publicada da qual, por brevidade, extraio apenas o seguinte: “Este ano, o primeiro do meu Pontificado - escreve o Papa Francisco - decidi assinar eu mesmo esta mensagem e enviá-la a vocês, queridos amigos, como expressão de estima e amizade por todos os muçulmanos, especialmente aos líderes religiosos”.
 Ora, nós católicos estamos nauseados pelas inúmeras notícias de perseguição aos cristãos no Egito, Paquistão, Síria etc.

Padre Francisco Murad martirizado pelos muçulmanos
Cabeça decepada do Padre Francisco
 











O Padre Francisco Murad foi degolado terrivelmente, duzentas moças cristãs estão sequestradas e serão estupradas até a morte; Ainda hoje recebi as fotos abaixo provenientes também da Síria.




 

[Fotos acima: Menina também teve sua cabeça cortada pelos muçulmanos por ser cristã]
Como não ficar desconcertado com a cordialidade demonstrada para com esses perseguidores? E mais, para os perseguidos nenhuma palavra!
Tudo quanto acabo de dizer são fatos publicados na mídia ao alcance de qualquer um.
*  *  *
Outra questão é o avanço do aborto no Brasil. Ainda durante o “eco” da JMJ, foi sancionada uma lei que favorece enormemente a liberação do aborto no Brasil.
E então, como não ficar desconcertado? Teria bastado uma só palavra do Sumo Pontífice, e essa palavra foi implorada por milhares de católicos através de um abaixo assinado ao Arcebispo do Rio de Janeiro, para que essa lei assassina fosse barrada. Tal palavra teria evitado a sanção da lei.
A História dirá que, essa palavra, o Santo Padre não a pronunciou, e por isto o aborto obteve um forte avanço no Brasil. É terrivelmente doloroso dizê-lo. Mas é evidente.
Para nós católicos, como coadunar tal atitude com as seguintes palavras de João Paulo II?
“O aborto a eutanásia são, portanto, crimes que nenhuma lei humana pode pretender legitimar. Leis desse tipo não só não criam obrigação alguma para a consciência, como, ao contrário, geram uma grave e precisa obrigação de opor-se a elas através da objeção de consciência. ...No caso de uma lei intrinsecamente injusta, como aquela que admite o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito conformar-se com ela, nem participar numa campanha de opinião a favor de uma lei de tal natureza, nem dar-lhe a aprovação do próprio voto. (Enc. Evagelium Vitae, 72)
Não bastasse isso, vejamos o que saiu no site da Veja essa semana:
Em uma extensa entrevista a uma revista jesuíta publicada nesta quinta-feira, o papa Francisco criticou o que classifica como "obsessão" dos clérigos em pregar contra o aborto e o casamento gay - e afirmou: a Igreja Católica não tem o direito de interferir espiritualmente na vida dos homossexuais. "A Igreja deve ser uma casa aberta a todos, e não uma pequena capela focada em doutrina, ortodoxia e em uma agenda limitada de ensinamentos morais", afirmou o pontífice.”
E há ainda a questão dos ateus, dos divorciados, do celibato...
Aqui também faço minhas as palavras do Dr. Plinio.
 “Os fatos em que fundo minhas apreensões são por demais claros para que possam ser abafados pelo berreiro de protestos vazios, por atos de reparação ressentidos, mas falhos de qualquer base na realidade, por estrondos publicitários ou campanhas de cochicho.
“Católico apostólico romano, eu o fui durante toda a minha vida. Sou-o, hoje, com maior convicção, energia e entusiasmo do que nunca. E, espero, pela graça de Deus e pela intercessão de Nossa Senhora, que o serei mais e mais até o último alento. Por isto, tributo do fundo de minha alma, ao Sumo Pontífice e à Santa Sé, toda a veneração, todo o afeto e toda a obediência que lhes devo segundo a doutrina e as leis da Igreja.
“Mas sei que, posto diante de fatos claríssimos, não os posso negar, nem deixar de perceber suas consequências.
E sei também que, ainda quando admitidos os fatos irrecusáveis que acabo de enumerar e analisar, tudo quanto a Igreja ensina sobre a infalibilidade e a suprema autoridade dos sumos pontífices continua inteiramente intacto. Assim, estou com a consciência à vontade ao tratar, como católico, do triste e delicado assunto.”
Pergunto: Desejará o Papa Francisco, para o mundo católico, um "modus vivendi" com os mais irredutíveis inimigos da civilização cristã e da Igreja Católica? “Fico a pensar... e enquanto penso, me vem à mente uma fábula de La Fontaine. Infelizmente, é das mais esquecidas. Mas é também das mais oportunas.
“Depois de mil anos e mais de guerra declarada,
os lobos fizeram a paz com as ovelhas.
Era, aparentemente, a felicidade dos dois partidos:
Pois, se os lobos comiam muita rês extraviada,
os pastores, da pele deles [dos lobos], para si faziam muitos trajes.
Jamais havia liberdade, nem para as pastagens [porque as ovelhas eram devoradas],
nem, de outro lado, para as carnificinas [porque os lobos eram caçados]:
Não podiam usufruir de seus bens senão tremendo.
A paz se concluiu, portanto; trocam-se os reféns:
Os lobos entregam seus lobinhos; e as ovelhas, seus cães [os cachorros que as guardavam].
Sendo a troca feita nas formas habituais,
e ajustada por comissários [representantes de ambos os lados].
Ao fim de algum tempo, quando os senhores lobinhos
se viram lobos perfeitos e ávidos de matança,
valem-se do tempo em que, no redil,
os senhores pastores não se achavam,
estrangulam metade dos cordeiros mais gordos

agarram-nos com os dentes e se retiram para os bosques.
Haviam eles avisado sua gente secretamente.
Os cães, que, sob a palavra deles, repousavam confiadamente,
foram estrangulados dormindo.
Foi isto feito tão rapidamente, que os cães mal sentiram;
foram todos feitos em pedaços; nem um só escapou.
Podemos concluir disto
que é preciso fazer aos maus guerra sem quartel.
A paz é bastante boa em si mesma;
concordo: mas de que serve ela
com inimigos sem palavra?”
                Termino ainda com as mesmas palavras de Dr. Plinio.
“Da luminosa fábula se deduz que qualquer combinação da Igreja com os inimigos dEla não poderá ser um "modus vivendi", mas um "modus moriendi".


domingo, 16 de junho de 2013

Comunhão na mão, falsa solução e falta de Fé

A finalidade da Igreja é a salvação das almas, fazendo para tal o uso adequado dos sacramentos. Nosso Senhor fundou-a para santificar as almas e prepará-las para o Céu.
Detentora do poder sobrenatural legado diretamente a Ela pelo Salvador, são incontáveis ao longo dos séculos as intervenções do clero – cônscio dos seus deveres – implorando a Deus a cura de epidemias, a suspensão de catástrofes, a pacificação de guerras etc., promovendo para tanto atos em que a Fé dos fiéis atraia de Deus a misericórdia, o perdão e a solução dos problemas. Afinal foi Nosso Senhor quem disse: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá” (São Lucas 17,6).


Portanto, nos casos em que o povo é acossado por infortúnios, cumpre ao clero afervorar sua fé e aproximá-lo mais de Deus, promovendo boas confissões, atos de piedade, vigílias, procissões etc. Um povo assim comove a Deus e atrai a Sua misericórdia. Ora, inexplicavelmente, não é o que está acontecendo.
Vem se alastrando pelo interior do Estado de São Paulo - pelo menos -, a instrução de alguns bispos que impede aos sacerdotes darem a Sagrada Comunhão na boca dos fiéis, pelo risco de contágio do vírus H1N1.

Imaginar que a Sagrada Eucaristia, que é Cristo REALMENTE PRESENTE, possa ser veículo de um vírus contagioso é no mínimo falta de Fé neste sacramento.

Se o clero pregasse com zelo que o vírus se propaga muito mais através das incontáveis ocasiões em que as relações imorais, e portanto pecaminosas, acontecem - e em número incalculável; e se apontasse que as relações pecaminosas estimuladas pelos programas das televisões, pelas modas indecentes, pela promiscuidade dos mais variados ambientes, constituem uma forte causa de contagio para os católicos, como o clero acertaria mais no objetivo de evitar o contágio. 


Sobretudo se ensinasse a verdadeira doutrina católica que afirma ser o pecado muito mais grave que uma doença física o qual, uma vez evitado, traria como consequência a saúde física. Mas, por incrível que pareça, em não poucas igrejas não se ensinam mais as verdades da sã doutrina.

Outro exemplo de estarrecer foi, há não muito tempo atrás, a norma dada por um bispo induzindo o seu clero a substituir na consagração das missas o vinho por suco de uva. Motivo? Pasmem os católicos que têm fé: para os padres não sofrerem as consequências da lei seca, caso caíssem em alguma blitz após celebrarem. Ora, é sabido que com suco de uva não há a transubstanciação, portanto, não há Eucaristia. Mais uma vez, com a maior naturalidade, se aprovou um afastamento não pequeno em relação a Deus.
Felizmente há no clero verdadeiros heróis que têm coragem de pregar a moral de sempre e com isso evitam consideravelmente os contágios em suas paróquias. Sabem eles que o melhor remédio contra o H1N1 é a prática da virtude da pureza. Sobretudo são sacerdotes que inculcam a Fé Católica autenticamente. Felizes suas ovelhas, pois são livres de contágios de doenças físicas e espirituais!
Em contrapartida há um número não pequeno de clérigos que agem como se não tivessem Fé, em prejuízo de uma multidão incontável de ovelhas sob sua responsabilidade.
“A quem muito foi dado, muito será pedido” (Lc 12,48).
O que acontecerá quando Nosso Senhor, no juízo particular e no final, cobrar aos pastores onde estão as almas remidas pelo Seu Preciosíssimo Sangue?

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Considerações para o dia 13 de Maio





Chegaremos, no próximo dia 13 de maio, ao 96º. aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima na Cova da Iria. E daqui a quatro anos comemoraremos o centenário!
Evidentemente a avaliação dos efeitos da imensa misericórdia de Nossa Senhora para com a humanidade salta aos olhos: foram quase cem anos de ingratidão. E a incorrespondência à Sua mensagem não poderia ser maior.
Antes de tudo, o que de mais grave aconteceu nesse tempo foi a crise de nossa Santa Igreja, prevista por Nossa Senhora, mas quase ignorada por não poucos historiadores e mesmo por autoridades eclesiásticas.
Não resta a menor dúvida que a maior aflição de Nossa Senhora era prevenir os homens quanto aos riscos dessa crise, mas isso não foi considerado com a merecida seriedade por quem tinha condições de evitar esse mal, por assim dizer “infinito”.
Como estará nossa sociedade quando as aparições cumprirem 100 anos? E como estará a nossa Santa Igreja Católica Apostólica Romana?
Recentemente a cidade de Bauru, interior de São Paulo, foi sacudida por uma crise que teve repercussão até internacional.
Um sacerdote daquela cidade vinha tomando atitudes escandalosas e pregando os maiores absurdos.
Vi na internet dois vídeo desse padre, do qual extraí as fotos que  incluo nesta carta, para o Sr. ter ideia do perfil moral da pessoa: piercing na orelha, Che Guevara na camisa, com jeito, não de pessoa sagrada, mas de um rapaz inteiramente "engajado" nas coisas do mundo, com tudo o que isso significa.
Mas, pior do que isso, é a doutrina que ele defende, completamente contrária à da Igreja Católica, e que ele escancara de modo escandaloso em vários vídeos da internet.
Ele prega "uma nova Igreja". Quer "acabar com a estrutura paroquial", a qual para ele "é uma instituição falida" que "divide o ser humano em território". Ele justifica, rombudamente contrário à doutrina católica, a prática homossexual: "um homem se apaixonar por outro homem, e a mulher se apaixonar por outra mulher, e os dois sendo casados: aqui existe amor também" e que "ele está se descobrindo, e ela também". Para ele, "uma pessoa que tenha relacionamento extraconjugal, e esse relacionamento é aceito pelo cônjuge, aqui existe fidelidade".
Diante de tais absurdos, e depois de ser várias vezes advertido, ele acabou sendo excomungado pelo Bispo de Bauru, D. Caetano Ferrari, por afirmar publicamente essas e outras heresias.
Infelizmente aconteceu, mas foi bom que uma pessoa que defende tais heresias tenha sido excluída do rebanho e tirada do meio das ovelhas, pois era um lobo com pele de cordeiro.
Oxalá outros bispos se animem a fazer o mesmo com outras manifestações de heresia que pululam pelo Brasil... e pelo mundo afora.
Enquanto isso não é feito, as ovelhas vão sendo desviadas e entregues à mais funesta das influências, aquela que as faz deixarem de ser católicas (sem perceber), embora continuem frequentando os templos católicos.
Contudo, para nós que cremos piamente nas promessas de Nossa Senhora de Fátima e temos a certeza absoluta da imortalidade da Igreja, há um aspecto que deve nos encher de consolação e ânimo.
Nossa vitória é certa, pois venceremos juntos com Nossa Senhora. E teremos uma imensa recompensa que será a satisfação de Nossa Senhora pela nossa confiança inteira nEla.
Já são 97 anos que Nossa Senhora prometeu o triunfo do Imaculado Coração de Maria no mundo. E de lá para cá as coisas só pioraram, chegando ao fundo do abismo que estamos vendo.
Essa espera pode provar os bons. Mas Nossa Senhora tem o direito de pedir a nossa confiança no seu triunfo.
Continuemos, pois, suportando confiantemente essa espera, ao mesmo tempo que inconformados com os erros de nossos dias. E tenhamos a firme certeza de que essa demora prenuncia uma gloriosa vitória de Nossa Senhora, a qual será tanto maior quando maior for a demora.
E nos lembremos sempre de que, na fidelidade dos bons, Nosso Senhor está provando que a Sua Única Igreja é imortal e vencerá de maneira esplendorosa os seus inimigos internos e externos.
Essas são considerações que eu gostaria de sugerir aos meus leitores para o dia 13 de maio, festa marcante do início das aparições de Nossa Senhora de Fátima e de todos os que são realmente dEla.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Espírito Santo e o Conclave

Pareceu-me oportuno publicar o artigo de Hélio Dias Viana, conforme os leitores poderão perceber.



Em face da inusitada abdicação de Bento XVI, estamos na iminência de um conclave para eleger o novo Papa.

É corrente e inteiramente conforme com a verdade admitir a ação do Divino Espírito Santo nessa ocasião.

Mas cumpre esclarecer que, contrariamente ao que muitos pensam, o Espírito Santo não age sozinho.

A escolha será feita por homens — no caso, por cardeais, livres para corresponder ou não às inspirações do Paráclito —, de tal forma que, ao sair o novo Papa, não se pode pura e simplesmente dizer que foi o Espírito Santo que o escolheu.

Quantas vezes o Espírito Santo se tem deixado “derrotar” por injunções políticas dos homens, para castigo destes!

Aliás, o vaticanista norte-americano John Allen reproduz as seguintes palavras de Bento XVI, quando perguntado sobre o papel do Espírito Santo na eleição dos Papas:

“Eu não diria, no sentido de que o Espírito Santo escolhe o Papa. [...] Eu diria que o Espírito Santo não assume propriamente controle da questão, mas que, como bom educador que é, nos deixa muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar inteiramente. Portanto, o papel do Espírito Santo deveria ser entendido num sentido muito mais elástico, não de que Ele dite o candidato no qual devemos votar...”.

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Foi pensando em tudo isso que me veio à mente a enorme expectativa criada pelo lulo-petismo em torno do anterior conclave que elegeu Papa o então Cardeal Ratzinger, em 2005.

O PT esperava ver alçado à direção suprema da Igreja um cardeal brasileiro que simpatizasse com sua causa, pois, diziam seus líderes, para a vitória definitiva do socialismo no Brasil e na América Latina, só precisavam de um Papa que os apoiasse. E Dom Cláudio Hummes, Arcebispo de São Paulo, estava então no centro da preferência dos petistas.

Essa expectativa, como se vê, não se realizou. E, apesar de aparelhado nestes últimos dez anos, o governo petista continua desnorteado, pois não conta com o apoio da opinião pública majoritariamente católica. E seu malogro nas últimas eleições municipais só não foi maior, porque obteve nos meios eclesiásticos de São Paulo, alguém que foi decisivo para a vitória do marxista Fernando Haddad.

Mas pode-se perguntar: se a expectativa petista para o conclave de 2005 tivesse se verificado, a escolha teria sido inspirada pelo Espírito Santo?
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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

E o futuro Papa?


Que Nosso Senhor, cabeça da Igreja, suscite um novo Adriano VI proporcionado aos problemas de nossos dias. Para edificação e esperança dos leitores, a leitura do texto abaixo parece realmente oportuna.
Esse texto, contendo uma alentada citação do Papa Adriano VI, é de Plinio Corrêa de Oliveira, e o extraímos de seu prefácio ao livro: “A TFP: uma vocação. TFP e famílias. TFP e famílias na crise espiritual e temporal do século XX”. (http://www.pliniocorreadeoliveira.info/PRE_8602_Papa_AdrianoVI_meaculpa.htm).
Por brevidade, deixamos de transcrever as notas de rodapé referentes ao prefácio.

Adriano VI (1522-1523), nascido em Utrecht (Holanda), mas considerado o "último Pontífice alemão" até que fosse elevado à Sé de Pedro o Papa Bento XVI (2005-2013).

A família e a Igreja em crise
        A responsabilidade por essa situação desastrosa não toca apenas ao Estado.
        A Santa Igreja Católica, a única verdadeira Igreja de Deus, se vê envolta hoje em uma crise cuja gravidade já foi discernida por Paulo VI, bem insuspeito, entretanto, de pessimismo ou animadversão para com o mundo moderno, ao qual fez aberturas que surpreenderam por vezes não poucos dentre os melhores.
        João Paulo II, entretanto tão benévolo – ele também – em relação ao mundo moderno, expendeu reflexões análogas; e um Prelado eminente pelo saber e pelas altas funções que ocupa na Santa Igreja, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, publicou em 1985 seu famoso "Rapporto sulla Fede", no qual se deve louvar a nobre franqueza com que descreve sintomas altamente expressivos da crise que lavra como um incêndio no interior da Santa Igreja.
        O valor deste autorizado testemunho cresce ainda de ponto considerando-se que o Purpurado, quer no conjunto de sua obra de intelectual, quer em sua atuação à testa do ex-Santo Ofício, vem seguindo uma linha que não permite incluí-lo honestamente entre os que as "mass-media" qualificam de reacionários, saudosistas, extremistas da intolerância etc.
        Ora, de onde procede essa dolorosa crise na Igreja? Sem dúvida, e em larga medida, de agentes do Leviatã comunista que, de fora da Cidade Santa, se empenham com esforço total em destruí-La. Mas uma pesquisa dos fatores dessa crise não seria lúcida nem proba se se limitasse a olhar para além dos muros dEla. Cumpre indagar se também entre os católicos – entre os leigos bem entendido, mas também nas fileiras augustas da Sagrada Hierarquia – há propulsores de tal crise.
        A pergunta pode surpreender a alguns… dia a dia menos numerosos. Não faltará ainda quem brade, alarmado, que ela é escandalosa, revolucionária, blasfema.
        É explicável que a tais reações conduza a crassa ignorância religiosa em que estão imersos tantos fiéis neste triste ocaso do século XX. Na realidade, se conhecessem melhor a doutrina e a História da Igreja, a reação deles seria bem outra. A fim de evitar digressões doutrinarias, destinadas a aplacar tal estranheza, as quais se afastariam por demais do eixo central das presentes considerações, basta lembrar aqui um documento memorável, a instrução do Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes alemães reunidos em dieta, em Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523.
            Transcreve largos trechos desse documento o historiador austríaco Ludwig von Pastor em sua obra célebre "Geschichte der papste" – História dos Papas. A conjuntura em que essa instrução foi ditada pelo Pontífice se insere na terrível crise protestante do século XVI, tão semelhante e ao mesmo tempo tão menos profunda do que a de nossos dias.
        Dessa Instrução destacamos os seguintes tópicos:
        "Deves (dirige-se o Pontífice ao Núncio Chieregati) dizer também que reconhecemos livremente haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos pecados dos homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de certo não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos afastam dEle, de modo que não nos ouve as suplicas.
        "A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo tem origem nos pecados dos sacerdotes, e por isto, como observa (São João) Crisóstomo, nosso Divino Salvador, quando quis purificar a enferma cidade de Jerusalém, dirigiu-se em primeiro lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes; e nisso imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz.
        "Bem sabemos que, mesmo nesta Santa Sé, ha já alguns anos vem ocorrendo, muitas coisas dignas de repreensão; abusou-se das coisas eclesiásticas, quebrantaram-se os preceitos, chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos Prelados.
        "Nós todos, Prelados e Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um de nós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira.
        "Por isto (igualmente) deves tu prometer em nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligencia a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a Corte romana, da qual talvez se tenham originado todos esses danos; e acontecerá que, assim como a enfermidade por aqui começou, também por aqui comece a saúde.
        "Nós nos consideramos tanto mais obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante reforma.
        "Porém não procuramos nossa dignidade pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom grado teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o supremo munus pastoral. Em consequência, queremos exerce-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura, prestar auxilio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos, e genericamente fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro.
        "Não obstante, que ninguém se surpreenda, se não corrigirmos todos os abusos de um só golpe; pois as doenças estão profundamente arraigadas e são múltiplas; pelo que é preciso proceder passo a passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos mais graves e perigosos, para não perturbar ainda mais a fundo por meio de uma precipitada reforma de todas as coisas. Com razão diz Aristóteles que toda mudança repentina é muito perigosa para uma sociedade" . 
        Quantos ensinamentos profundos há a deduzir dessas nobres e sábias considerações! Ninguém as pode tachar de irreverentes para com a Santa Igreja, de escandalosas, revolucionárias, blasfemas, como de bom grado o fariam certos católicos de vistas estreitas.
        E quantos exemplos concretos haveria que citar em cada país da Cristandade contemporânea em confirmação desses ensinamentos de Adriano VI! (...).